José Gouveia Figueiroa*
Entre todos os meios de comunicação de massa, o rádio tem se destacado como exemplo de força, graças a sua popularidade e poder de penetração em localidades comumente inacessíveis a outros veículos tradicionais e igualmente fortes da mídia. Nem a chegada da televisão ao Brasil, há mais de 50 anos, nem mesmo o advento da Internet, no final do século passado - esta de acesso ainda limitadíssimo à população rural, sobretudo aqui no Nordeste -, constituiu ameaça ao poderio do velho e conhecido receptor. Sabe-se, todavia, que as rádios brasileiras de amplitude modulada (AM's) vêm enfrentando sérias dificuldades. Em anos mais recentes, algumas delas sendo levadas a promoverem significativas mudanças em sua grade de programação, na tentativa de sobreviverem e se adaptarem aos novos tempos. Paralelamente, houve, nos últimos dez anos, uma exagerada proliferação das emissoras comerciais de freqüência modulada (FM's).
Segundo dados do Ministério das Comunicações, nos estados de Alagoas, Amapá, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rondônia, Sergipe e São Paulo as rádios em frequência modulada suplantaram em quantidade as AM`s. Além disso, a década de 1990 assinala a legalização de centenas de rádios comunitárias, ora presentes na maioria dos municípios brasileiros, grande parte das quais prestando valiosos serviços às comunidades onde estão instaladas. Por sinal, prestação de serviços tem sido o lema daquelas emissoras que buscam melhorar os índices de audiência, qualquer que seja sua localização, sua área de abrangência, seu público ouvinte etc, independentemente de serem comunitárias, educativas ou comerciais.
O impacto do rádio como veículo de comunicação além do interesse político em sua utilização reiteram o seu potencial e a sua influência. É o veículo de comunicação mais presente nos lares brasileiros, sendo também um dos mais democráticos do nosso país. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 88,9% dos domicílios brasileiros possuíam, no ano de 1995, pelo menos um aparelho receptor de rádio. Esse mesmo levantamento do IBGE, mostra ainda que a presença do rádio nos lares brasileiros ocorre em índices superiores aos da televisão. Em alguns casos, 100% superiores. Impera a hegemonia do rádio, inclusive, em regiões de difícil acesso.
Mesmo não sendo possível prever por quanto tempo ainda, há sinais visíveis de que o rádio continuará sendo um veículo eclético, dinâmico e veloz; um poderoso elo de comunicação que, pela versatilidade, muito poderá auxiliar em atividades dos programas de inclusão social tão em evidência nas linhas de ações do atual governo. É bem verdade que tais diretrizes nem sempre estão sintonizadas com os anseios do público a que se destinam, principalmente no caso da população rural brasileira, levando-se em consideração as modificações ocorridas nesse meio, tanto do ponto de vista espacial, bem como da própria organização da atividade econômica. Faz-se oportuno ressaltar que essa reestruturação tem dado origem a novos desafios nas práticas de Comunicação Rural adotadas em nosso país. Por outro lado, o 'reordenamento' da paisagem rural brasileira, gradativamente incorporando tecnologia e modernidade, agregando valor à produção e de olho em aspectos sociais e ambientais, abre amplas perspectivas para que o país possa, em médio prazo, excluir de suas estatísticas os números sobre a situação de pobreza que atormenta um elevado contingente de famílias. Nesse sentido, a tarefa de construir um Brasil mais justo não deve ser encargo exclusivo dos governantes ou de políticas por eles elaboradas, mas deve partir do princípio de que todos estão convocados a participar, e para a qual cada um deve sentir-se disposto a auxiliar, na luta para reduzir as desigualdades entre as diferentes regiões do território brasileiro.
Possivelmente vislumbrando esse inusitado cenário, a Embrapa teve a feliz iniciativa de lançar um programa semanal de rádio, com o objetivo de levar, inicialmente aos habitantes do semi-árido nordestino, informações sobre tecnologias geradas em laboratórios e campos de experimento, ao longo dos seus 32 anos de existência. Mais que isso: a parceria estabelecida com o Fome Zero, do Governo Federal, e a extraordinária receptividade dos dirigentes de emissoras contatadas e cadastradas para veiculação do mesmo, poderão assegurar ao programa de rádio da Embrapa o suporte indispensável para que este se consolide em definitivo como instrumento de difusão tecnológica, cumprindo sua finalidade de contribuir para a melhoria das condições de vida de milhares de pessoas que vivem da pequena produção agrícola.
Em Sergipe, a equipe de rádio da Embrapa Tabuleiros Costeiros, unidade localizada em Aracaju, vem se destacando pelo toque de originalidade dos seus e dos programas da Unidade de Execução de Pesquisa de Rio Largo, em Alagoas, também vinculada à Embrapa Tabuleiros Costeiros, nos quais poesias, radiodramas, aboios e outras manifestações folclóricas e culturais do sertão nordestino, produzidos com exclusividade para o Prosa Rural, são escritos e interpretados pelos próprios integrantes do grupo.
Esse é o campo em que está plantado o 'Prosa Rural', cujo êxito resulta da simplicidade de seu formato e da objetividade nos temas explorados. Some-se a isso a dedicação de todas as pessoas envolvidas na produção e divulgação do programa. Testemunho maior desse sucesso são os casos em que, a pedido dos ouvintes, o 'Prosa' tem sido levado ao ar diariamente e, segundo depoimento de alguns radialistas, contribuído para reforçar a audiência e enriquecer o trabalho dessas emissoras. Somente na faixa do semi-árido nordestino e norte de Minas Gerais, hoje são mais de 450 emissoras, entre educativas, comerciais e comunitárias veiculando o programa. O crescente êxito do Prosa Rural contribuiu para que rapidamente ele chegasse até as regiões Norte e Sudeste do Brasil, sendo que as Unidades da Embrapa no Centro-Oeste já dão os primeiros passos para a produção e divulgação do programa naquela região.
Pouco importa o sotaque, pois em todo processo de comunicação cujo código é a palavra, basta simplesmente usá-la de forma clara e espontânea, para que a mensagem tenha ressonância. E nesse particular, diga-se de passagem, o Prosa Rural segue cumprindo o seu objetivo precípuo, levando ao produtor e à juventude rural orientações que indicam a construção de novos caminhos para os pequenos agricultores brasileiros.
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*José Gouveia Figueiroa é pós-graduado em Administração Rural pela UFRPE. Atua na Área de Negócios para Transferência de Tecnologia da Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju - SE. Contatos: (79) 3226-1361 gouveia@cpatc.embrapa.br.