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Transgênicos e cidadania

 

 

     
     A avalanche transgênica, caracterizada pela gradativa apropriação e degradação dos recursos tradicionais na agricultura, apóia-se em lobbies empresariais poderosos e tem como objetivo fazer vingar um modelo comprometido com o capital financeiro internacional e interesses excusos. Essa constatação é óbvia quando nos defrontamos com a ação de empresas que, gradativamente, buscam o monopólio das sementes, em particular daquelas que sustentam as monoculturas de exportação.

As empresas transgênicas não apenas defendem a vantagem (sempre discutível) das sementes engenheiradas, mas incorporam em seu processo de gestão uma visão também transgênica, que repudia a diversidade cultural e que é contrária ao debate de idéias. Usam sistematicamente seu poder econômico para ameaçar as vozes que ousam enfrentá-las, como se pode perceber dos processos e acusações contra pesquisadores e jornalistas independentes.

A truculência da ação está afinada com a arrogância do seu discurso, que defende unilateralmente as vantagens das tecnologias modernas e recorre ao processo execrável de manipulação da opinião pública. As empresas transgênicas tentam convencer-nos do caráter democrático e messiânico das suas sementes ("os transgênicos vão matar a fome") ao mesmo tempo em que pressionam os pequenos agricultores e consolidam um sistema que unicamente as favorece. Monopolizam mas não compartilham jamais.

Ao mesmo tempo, insinuam que as resistências aos seus produtos têm a ver com os interesses das empresas de agrotóxicos, tentando omitir, cinicamente, que a relação entre a indústria de biotecnologia e a indústria de agroquímica é umbilical. Afinal de contas, elas estão entre as maiores produtores de venenos (agrotóxico é veneno e não remedinho de planta!) e pretendem, com os transgênicos, apenas estabelecer uma relação direta, exclusiva entre as suas sementes e os agrotóxicos que fabricam. São como as empresas de bebidas que estabelecem a operação casada entre as cervejas e os refrigerantes, obrigando os comerciantes a engolirem o que lhes dá menos lucro. Vendem sementes que só são produtivas com os seus agrotóxicos, o que caracteriza monopólio, truculência comercial, chantagem agroalimentar.

A opção transgênica, desencadeada pelas multinacionais das sementes, é uma ameaça real à nossa soberania porque representa um cerco à agricultura tradicional em todo o mundo.

Se é verdade que a biotecnologia pode gerar soluções importantes para o aumento da produção, respeitadas a segurança alimentar e a saúde das populações, que o Brasil invista em suas próprias empresas (a Embrapa é uma delas, de competência indiscutível) e promova projetos responsáveis para desenvolvê-la. Não deve, como parece ter sido o caso, tornar-se refém de tecnologias estrangeiras patrocinadas por corporações comprometidas apenas com investidores internacionais.

É fundamental que adotemos precaução na pesquisa e no desenvolvimento da tecnologia transgênica e que sobretudo estejamos atentos às ameaças à nossa soberania. Não podemos continuar à mercê de empresas predadoras, monopolistas que acenam com migalhas (não passam disso as parcerias propostas por elas para nossas universidades e instituições de pesquisa) ao mesmo tempo que afrontam a nossa independência científica e tecnológica.

Olho vivo . É bom repetir sempre: quando se poupa o lobo, coloca-se a ovelha em risco. Desconfiemos das empresas que têm santo no nome, criam "embaixadores ambientais" ou proclamam uma cínica sustentabilidade. Nunca são o que parecem ser.

Em tempo: o CIB - Conselho de Informações sobre Biotecnologia, que se pretende fonte qualificada e independente, não é apenas um espaço para a defesa da tecnologia transgênica: é o reduto dos grandes interesses empresariais. Antes de aceitar e fazer circular os releases que ele encaminha, verifique os motivos subjacentes a esta divulgação. Suspeite sempre. Lembre-se: não existe almoço grátis e, no caso dos transgênicos promovidos pelas corporações agroquímicas, certamente é a sociedade brasileira quem deve pagar a conta no futuro. Existe vida além do glifosato. Ainda.

 

 

   
 
 
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