Elizabeth Oliveira
O acidente ocorrido
nas instalações da Bayer CropScience, em Belford
Roxo (Baixada Fluminense), no dia 16 de janeiro de 2007,
ao que tudo indica, não cairá no esquecimento
facilmente. A explosão de um tanque contendo o agrotóxico
Tamaron foi controlada pela multinacional, mas as reações
da sociedade continuam se multiplicando. A primeira delas
foi uma representação junto ao Ministério
Público Estadual e à Procuradoria da República
do Rio de Janeiro, encaminhada pelo Fórum de Meio
Ambiente e Qualidade de Vida da Baía de Sepetiba
e da Zona Oeste, organização que já
teve pedido de abertura de inquérito atendido para
apurar as causas e conseqüências da explosão.
Ambientalistas e moradores da cidade estão organizando
um abaixo-assinado, reforçando a demanda de investigação
apresentada pelo Fórum, enquanto a Comissão
de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Rio
de Janeiro (Alerj) pretende convocar a empresa a depor em
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI),
recém-protocolada, para apurar os Crimes Ambientais
registrados no Estado nos últimos oito anos.
O ambientalista e coordenador do Fórum, Sérgio
Ricardo de Lima, afirmou que o acidente "foi a gota
que faltava para que a sociedade se mobilizasse e exigisse
uma discussão mais aprofundada sobre a atuação
da Bayer no Estado do Rio, a começar pela sua localização".
Segundo ele, a empresa chegou à Belford Roxo há
cerca de 50 anos e com o crescimento da cidade atualmente
está localizada em uma área urbana, cercada
de residências e de todo tipo de estabelecimento.
"É por essa e outras razões que na representação
junto ao Ministério Público e à Procuradoria,
o Fórum defende a transferência das instalações
da empresa. É inadmissível que a produção
de agrotóxicos e outras substâncias altamente
tóxicas, além da incineração
de resíduos industriais, estejam convivendo lado
a lado com moradores que se queixam permanentemente de problemas
de saúde em decorrência dessas atividades potencialmente
poluidoras", reforça o ambientalista.
O presidente da Comissão de Meio Ambiente da Alerj,
deputado estadual André do PV, concorda com o teor
da ação proposta pelo Fórum. "Acidentes
piores podem acontecer a qualquer momento em Belford Roxo,
principalmente, porque os órgãos ambientais
não têm condições estruturais
para fazer um trabalho de fiscalização rigoroso
em todas as instalações da empresa. Acho que
o momento é oportuno à discussão sobre
a necessidade de transferência da planta da Bayer.
Não proponho acabar com as atividades da empresa
no Estado, mas considero que as suas instalações
estão hoje em uma área inadequada", reitera
o parlamentar a defesa que já havia feito no artigo
"Uma calamidade ambiental ao nosso lado", publicado
na edição do Jornal do Brasil de 28 de janeiro
último.
A Comissão de Meio Ambiente da Alerj, segundo André
do PV, pretende convocar representantes da Bayer para depor
na CPI dos Crimes Ambientais, não só pelo
acidente, mas também pelas reclamações
de moradores em relação aos problemas ambientais
e de saúde que seriam decorrentes das atividades
da empresa em Belford Roxo. Segundo o parlamentar, "se
forem feitos exames nas comunidades devem aparecer problemas
causados pela poluição industrial", afirma.
Ao tomar conhecimento de que o Fórum de Meio Ambiente
também solicitou levantamento epidemiológico
da população do entorno das instalações
da empresa, o deputado acrescentou: "Essa é
uma providência que já deveria ter sido tomada
há muito tempo".
Para investigar em profundidade as reclamações
dos moradores que relatam sintomas como ardor nos olhos,
náuseas, dores de cabeça, além de problemas
respiratórios, entre outros, que segundo contam seriam
provocados pelos gases que exalam da área industrial
da Bayer, na representação o Fórum
solicitou que seja feito um levantamento epidemiológico
das comunidades que estão mais próximas às
instalações da empresa, em Belford Roxo. A
sugestão dada no documento foi de que a Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz), pela sua reconhecida capacidade
em questões de saúde pública, seja
responsável por essa investigação.
No acidente ocorrido nas instalações da Bayer
ficaram feridos três funcionários que precisaram
ser hospitalizados. Todos eles tiveram alta, entre os dias
24 de janeiro e 18 de fevereiro, segundo informações
da empresa.
As queixas dos moradores
Nascida e criada em Belford Roxo, a técnica em
edificações, Maria Regina Inácio, 37
anos, mora em Jardim Anápolis, ao lado das instalações
da Bayer. Além de enfrentar os dilemas comuns a todos
os bairros de periferia como as ruas esburacadas, a falta
de áreas de lazer e os serviços precários
de transporte coletivo, entre tantos outros, ela reclama
também dos problemas de saúde. A moradora
contou que sente irritação nos olhos, além
de enjôo e dores de cabeça freqüentes.
"Eu não tive como comprovar até hoje,
mas como moro aqui há 37 anos, suponho que tenha
a ver com a poluição gerada pelas instalações
que estão aqui do lado. A minha suspeita é
maior porque outros vizinhos reclamam dos mesmos sintomas,"
afirma.
Maria Regina reclamou de uma fumaça branca que
sopra constantemente de uma chaminé localizada nas
instalações da fábrica. "Durante
o dia essa fumaça deixa todo mundo com enjôo.
À noite a situação piora e o odor fica
insuportável. A gente tem que fechar todas as portas
e janelas antes de anoitecer pra suportar o mau cheiro que
vem de lá", diz a moradora apontando para a
chaminé nas instalações da Bayer que
pode ser vista da sua calçada.
Segundo a técnica em edificações,
a população do entorno que sempre teve receios
em relação à possibilidade de acidentes
nas instalações da Bayer, ficou ainda mais
temerosa depois da explosão recente, que pôde
ser ouvida a 5 quilômetros de distância.
"Soubemos da gravidade do acidente pelos amigos que
se informaram pelas notícias que circularam nos jornais.
Faltou comunicação por parte da empresa para
a comunidade. Aqui a gente lamenta não ter também
nenhum tipo de orientação sobre como agir
em caso de acidentes como esse. A gente queria saber mais
sobre os riscos que envolvem a produção dessa
empresa e sobre os perigos desse produto que tava no tanque
que explodiu, mas ninguém fala nada, nem os órgãos
públicos e nem a própria companhia",
afirma Maria Regina.
O artesão Igor de Oliveira Silva, 34 anos, é
outro morador do Jardim Anápolis que reclama dos
impactos causados pelas atividades da Bayer. Segundo ele,
muita gente dessa comunidade precisa usar óculos
escuros para se proteger da irritação nos
olhos provocada pela fumaça. "Quem vê
essa fumaça que sopra durante o dia precisa conhecer
a situação à noite, quando o mau cheiro
incomoda muito mais".
Silva considera que falta mobilização dos
moradores de Jardim Anápolis e de outros bairros
mais próximos das instalações da Bayer
em Belford Roxo. Para o artesão, essa é uma
das razões pelas quais as comunidades não
têm acesso a mais informações sobre
a atuação da empresa e sobre os potenciais
riscos em decorrência de sua atuação.
"As informações sobre os riscos são
abafadas. A gente já soube inclusive que as atividades
da empresa já provocaram a contaminação
do lençol freático, o que obrigou muitas famílias
a lacrarem poços artesianos de onde tiravam água
pra consumo diário", reforça o morador.
O artesão informou que essa situação
foi verificada no Gogó da Ema, um bairro da cidade
famoso pelos altos índices de violência. Silva
também lamenta que esse tipo de boato não
tenha sido investigado a fundo para confirmar ou descartar
a suspeita de contaminação, notícia
que segundo ele, circulou de boca em boca pelo município.
A dona de casa Maria do Carmo Barreto dos Santos, 36 anos,
é outra moradora do Jardim Anápolis que se
queixa da falta de diálogo da empresa com a comunidade
e dos problemas de saúde, que segundo ela, podem
ter relação direta com as atividades da Bayer,
em Belford Roxo. "Há nove anos eu moro nesta
rua e não vejo a situação melhorar
por aqui. A gente está ao lado de uma grande empresa
e olha a situação da nossa rua", diz
apontando para a falta de calçamento, de arborização
e de outros cuidados urbanísticos no local.
"Como se não bastassem todos os problemas
que temos aqui, acidentes como o que ocorreu na Bayer, aumentam
ainda mais a desvalorização dos nossos imóveis.
Ninguém quer comprar uma casa do lado da fábrica,
muito menos depois de sentir na pele os problemas que temos
aqui. Um vizinho tentou vender a casa dele recentemente
e não conseguiu. A minha filha sofre com uma alergia
respiratória freqüente, sem contar a dor de
cabeça, a irritação nas vistas e o
mal-estar que todo mundo também sente por aqui",
reclama Maria do Carmo.
A moradora também se queixou do mau cheiro, que
segundo os outros vizinhos, sempre piora à noite.
"Eu reconheço que a gente precisa se unir e
exigir mais transparência na atuação
dessa empresa. A gente quer ter mais informação
sobre esse produto que provocou a explosão que estremeceu
as nossas casas. Além disso, está mais do
que na hora de sermos submetidos a exames médicos
para avaliar se estamos sofrendo impacto da poluição
industrial. Eu queria ser a primeira a ter a saúde
avaliada", afirma Maria do Carmo.
Morador de Belford Roxo há 24 anos, o eletricitário
aposentado Antônio Jorge Machado Soares, contou que
tem medo de novos acidentes. Ao tomar conhecimento por ambientalistas
da cidade de que havia uma representação no
Ministério Público e na Procuradoria da República,
pedindo a transferência da planta da Bayer e o levantamento
epidemiológico das comunidades, ele ressaltou: "Eu
apoio essa mobilização. Essa empresa não
poderia mais estar instalada aqui no meio da cidade. A gente
reconhece que a Bayer traz progresso, dá emprego
e paga impostos, mas também traz danos e causa preocupação
na população que morre de medo de acidente
grave."
O artesão Antônio da Silva Medeiros, que
mora há 12 anos em Belford Roxo, também destacou
o medo de acidentes, como a explosão recente que
ele ouviu no bairro onde mora, que está a cerca de
4 quilômetros de distância da área industrial.
"A gente tem pouca informação sobre essa
empresa e as coisas erradas que acontecem a gente não
fica sabendo porque a imprensa pouco divulga", queixa-se
o morador.
"Eu bato na tecla de que esse tipo de acidente além
de um crime ambiental deve ser considerado um crime corporativo.
Quem nos garante que o meio ambiente e a saúde humana
não foram afetados com a explosão?",
questiona o ambientalista Sérgio Ricardo. Esses argumentos
constam na representação que encaminhou ao
Ministério Público e à Procuradoria
da República, na qual também solicitou auditoria
independente nas instalações da Bayer, em
Belford Roxo.
"Tenho certeza que se isso for feito vai ser determinado
o fechamento das instalações dessa empresa
que no seu país-sede (a Alemanha) não teria
permissão pra funcionar. Tecnologia de incineração
em centro urbano não é adotada em nenhum país
desenvolvido. Se pode no Brasil isso já evidencia
uma situação de racismo ambiental, o que garante
aos grandes grupos econômicos explorar atividades
altamente poluidoras em regiões periféricas,
onde a população é formada por maioria
negra, pobre, com baixos níveis de escolaridade e
de mobilização social", acrescenta o
ambientalista.
O ambientalista Davson das Virgens Bragança afirmou
que concorda com as avaliações de Sérgio
Ricardo e que apóia a representação
encaminhada ao Ministério Público Estadual
e à Procuradoria da República. Na condição
de morador de Belford Roxo ele também se diz preocupado
com o risco de acidentes nas instalações da
Bayer e pretende contribuir na organização
do abaixo-assinado que reforçará o pedido
de auditoria independente nas instalações
da empresa, além de levantamento epidemiológico
das comunidades. "Essa empresa não deveria estar
mais funcionando aqui, em pleno centro urbano de Belford
Roxo", ressalta.
As vulnerabilidades dos países mais pobres
Acostumada a lidar com questões judiciais que envolvem
contaminação por substâncias tóxicas,
a advogada Bettina Maciel, do escritório Barcellos
Lima & Maciel Advogados Associados SC, considera que
as chamadas brechas na legislação, aliadas
à falta de informação de grande parte
da população e ao poder econômico de
megagrupos empresariais, deixam a sociedade nos países
mais pobres à mercê de vulnerabilidades ambientais
e de saúde pública, em função
de atividades potencialmente poluidoras. São essas,
segundo ela, condições favoráveis à
produção de agroquímicos na América
Latina, onde destaca que a mobilização das
indústrias consegue, inclusive, interferir nas leis.
"O caso do Tamaron que teve restringido o seu uso nos
países desenvolvidos, enquanto é praticamente
de uso livre no Brasil não é isolado. Muitos
agroquímicos, principalmente da classe dos organofosforados,
têm sido desaguados irrestritamente nos sítios
de países em desenvolvimento onde, inclusive, se
instalam as indústrias produtoras", afirma a
advogada sobre o produto contido no tanque que explodiu
em Belford Roxo.
A advogada lembrou que em 1992, a Portaria Nº 3 do
Ministério da Saúde, ratificou um documento
(do mesmo Ministério) denominado "Diretrizes
e orientações referentes à autorização
de registros, renovação de registros e uso
de agrotóxicos e afins." Essa Portaria alterou
a classificação toxicológica dos agrotóxicos,
fazendo com que produtos como o Tamaron, anteriomente considerados
mais perigosos, passassem a ser oficialmente reconhecidos
como menos tóxicos.
Segundo Bettina Maciel, "os produtos classificados
como Classes I, faixa vermelha e caveira (Extremamente Tóxicos),
e II, faixa amarela e caveira (Altamente Tóxicos),
passaram para as Classes III, faixa azul, (Medianamente
Tóxicos), e IV, faixa verde, (Pouco Tóxicos)".
Com esta alteração, a advogada explicou que
apenas 6% dos agrotóxicos do País permaneceram
nas Classes I e II, e 94% passaram às Classes III
e IV. Antes, 85% deles eram classificados como Extremamente
ou Altamente Tóxicos. "O Tamaron é um
organofosforado que sofreu mudança de classificação.
Antes pertencia à faixa vermelha, agora está
na faixa azul", reforça. A mesma Portaria do
Ministério da Saúde, acrescenta a advogada,
também possibilitou o aumento da concentração
de ingredientes ativos nos produtos, pois passou a dose
letal de veneno de 20mg/Kg para 200mg/Kg.
Outro exemplo de reforço à vulnerabilidade
socioambiental a partir de uma medida legal envolvendo agrotóxico
no Brasil foi relembrado pela advogada: "Além
de contrariar decisão judicial que proibia o plantio
de transgênicos no Brasil, a Medida Provisória
Nº 131 legalizou um produto de origem desconhecida,
obtido de forma criminosa, por contrabando, e colocou desnecessariamente
em risco a saúde e o meio ambiente ao permitir o
uso do glifosato, agrotóxico ao qual a soja transgênica
é resistente, que à época não
tinha autorização de uso concedida por órgãos
federais, como determina a Lei 7802/89, para uso na parte
aérea da soja".
Segundo Bettina Maciel, o Brasil ficou então à
mercê de um produto que não passou por qualquer
análise de segurança ambiental e sanitária
pelos órgãos governamentais. "A MP 131
deixou dúvidas em relação a como seria
feita a fiscalização do plantio, do destino
e da rotulagem dos produtos, levando-nos a supor que, deliberadamente,
não haverá fiscalização",
observa. "É através de medidas criminosas
como essas que as populações dos países
em desenvolvimento ficam expostas a todos os riscos possíveis
sem qualquer proteção. Um exemplo clássico
é o caso do chlorpirifos, igualmente um organofosforado,
que já havia enfrentado severas restrições
na Europa e Estados Unidos, inclusive perdendo o parâmetro
de produto seguro, mas que aqui era comumente usado, sendo
vendido nas gôndolas de supermercados", afirma
a advogada.
No caso do chlorpirifos, no entanto, uma reação
da sociedade conseguiu vitória, segundo Bettina.
A partir de um acidente de trabalho que intoxicou mais de
140 pessoas em Porto Alegre, em 1999, com um produto à
base desse organofosforado, houve uma mobilização
de um grupo de pessoas (toxicologista, neurotoxicologista,
advogadas, médicos do SUS, profissionais do Centro
de Saúde e Referência do Trabalhador do município,
além do Ministério Público Federal).
Pelo reconhecimento da responsabilidade por parte do empregador,
a advogada contou que esse agroquímico teve o registro
cassado junto à Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), no curso de Ação
Civil Pública. "Devemos nos questionar se precisaremos
sempre esperar que o pior aconteça para tentar remediar.
A saúde e a qualidade de vida são irremediáveis,
uma vez perdidas ou lesadas jamais voltarão ao estado
anterior. O ambiente depois de atingido levará muito
tempo para recuperar-se, se permitirmos que ele o faça",
diz a advogada.
Bettina Maciel vê na mobilização social
e no exercício da cidadania, as saídas para
garantir a melhoria da qualidade ambiental. "Talvez
em decorrência de um tempo muito grande convivendo
com a escravidão e com a exploração
colonial, nos tenhamos acostumado a nos vermos como cidadãos
de segunda categoria. Talvez, ainda haja muita energia sendo
investida para que continuemos a ver-nos desta forma, alimentando
uma visão pejorativa do brasileiro e cultuando a
baixa auto-estima de nosso povo", analisa.
A advogada também reforça que a mobilização
social se faz cada vez mais necessária, para exigir
transparência, em um cenário em que a força
do segmento empresarial conquista cada vez mais espaço.
"Um levantamento do Institute for Policy Studies, de
2000, informa que das maiores cem economias do mundo, 52
são agora corporações, apenas 48 são
países", diz ela.
Especificamente no setor de agroquímicos, a realidade
não é diferente, diz a advogada. Segundo citou
a especialista, "um estudo da Rural Advancement Foundation
International, de 2001, revelou que há vinte anos,
65 companhias de químicos agrícolas competiam
no mercado mundial". "Hoje, nove companhias detêm
aproximadamente 90 por cento das vendas de pesticida, 90
por cento das novas tecnologias e patentes de produtos estão
nas mãos de corporações globais."
A advogada conclui que "è a força das
corporações que subsistirá enquanto
as pessoas não se unirem". Da mobilização
da sociedade também dependem, segundo conclui Bettina
Maciel, as questões relacionadas à saúde
e à qualidade de vida, assim como os bens ambientais,
que precisam ser colocados no centro de todas as discussões
políticas, e contemplados com políticas publicas.
Brasil precisa de registro integrado de acidentes, diz pesquisador
da Fiocruz
A falta de dados confiáveis sobre acidentes industriais
é uma realidade no Brasil. Segundo Carlos Machado
de Freitas, pesquisador do Centro de Estudos da Saúde
do Trabalhador e Ecologia Humana da Escola Nacional de Saúde
Pública (ENSP) da Fiocruz, a solução
seria colocar em prática um sistema de registro integrado
entre Defesa Civil, órgãos ambientais, de
saúde, além de corporações como
o Corpo de Bombeiros e Polícia Rodoviária
Federal, entre outras. O especialista participou da elaboração
de um projeto desse tipo que foi discutido no âmbito
do Ministério da Saúde para ser testado nos
cinco Estados mais industrializados do País (Bahia,
Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São
Paulo, além do Distrito Federal).
"Foram dois anos de muita discussão e pactuação,
com representantes de órgãos públicos
que precisam fazer parte de um cadastro integrado de informações
sobre acidentes. A idéia do Ministério da
Saúde é de manter um banco de dados confiável
que contribuirá para estudos e políticas públicas
de prevenção de acidentes. Essa é uma
grande lacuna que o Brasil precisa preencher porque quando
acontecem acidentes, não só nas indústrias,
mas também nas estradas, envolvendo cargas de produtos
perigosos, os registros são feitos de forma isolada,
prejudicando avaliações que nem sempre permitem
a conexão desses acidentes com futuros impactos ambientais
e de saúde", explica o pesquisador.
Freitas explicou que de forma geral a maior parte dos acidentes
com produtos perigosos é formada por explosões,
incêndios e vazamentos, podendo ser simples ou combinados.
Mais de 90% dos casos, segundo o pesquisador, envolvem emissões
de poluentes na atmosfera e geram lançamentos de
efluentes em corpos d´´agua. "Embora tenhamos
a falta de dados mais precisos sobre as principais causas
no Brasil, podemos afirmar que os acidentes no País
estão sendo tratados de forma simplista", diz
o especialista que é um dos autores do livro "Acidentes
Industriais Ampliados - desafios e perspectivas para o controle
e a prevenção" (editado pela Fiocruz
em 2001).
Como forma de minimizar os problemas estruturais que enfrentam,
geralmente, as empresas culpam os operadores quando ocorrem
acidentes. "Esse é um exemplo da forma simplista
como está sendo tratado um problema complexo no Brasil.
Geralmente a vítima é tida como culpada, antes
mesmo de qualquer investigação, e o problema
nunca é relacionado com o contexto no qual o acidente
ocorreu", afirma Freitas. O pesquisador também
aponta como outro erro recorrente a falta do envolvimento
das comunidades em planos de emergência, ou a existência
de planos "que não saem do papel".
Em sua tese de doutorado, o pesquisador fez um estudo de
caso de um acidente ocorrido nas instalações
da Bayer, também em Belford Roxo, em 1992. "É
inaceitável que 15 anos depois as comunidades continuem
alegando que não sabem o que fazer em uma situação
de acidente. Isso ocorre também em função
da omissão das autoridades públicas. Precisamos
tirar leis e planos de emergência do papel, treinar
pessoal para atender a população e realizar
diagnósticos mais precisos, identificando sinais
e sintomas compatíveis com os problemas, além
de preparar os órgãos ambientais para monitorar
os produtos lançados na atmosfera e no meio ambiente
de uma forma geral", defende Freitas.
O pesquisador ressaltou ainda que em casos de comunidades
carentes, vivendo próximas de áreas de produção
de agroquímicos e outros produtos tóxicos,
os impactos causados pelas emissões de poluentes
no cotidiano, ou em decorrência de acidentes, são
mais fortes do que em circunstâncias envolvendo populações
bem nutridas e com melhores condições de vida.
Para Freitas, é necessário o monitoramento
rigoroso das atividades das empresas que manipulam agrotóxicos
e outros produtos tóxicos, além de acompanhamento
da saúde da população que trabalha
e vive no entorno desses empreendimentos.
Neurotoxicologista defende o banimento dos agrotóxicos
das lavouras brasileiras
A médica neurotoxicologista, Heloísa Pacheco
Ferreira, defende veementemente o banimento dos agrotóxicos
das lavouras brasileiras e garante que esse tipo de produto
tem colocado em risco a saúde de trabalhadores e
consumidores, além de provocar impactos ambientais
de forma silenciosa, sem que, na maioria das vezes, a sociedade
tome conhecimento.
"Estamos pesquisando alternativas viáveis ao
uso de agrotóxicos e uma delas é a agrohomeopatia,
uma solução que tem dado resultados excelentes
em Friburgo (região Serrana do RJ). Essa pesquisa,
realizada há dois anos, em lavouras de tomates, demonstra
que é possível substituir o uso de Tamaron,
largamente utilizado nesse tipo de cultura agrícola,"
afirma.
Na condição de coordenadora do ambulatório
de Toxicologia Clínica do Instituto de Estudos de
Saúde Coletiva (Iesc) do Hospital Universitário
Clementino Fraga Filho (HUCFF) da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), a especialista tem acompanhado de
perto, não só o atendimento ambulatorial a
pacientes com histórico de contaminação,
mas pesquisas que comprovam danos ambientais e à
saúde pública, provocados pelos agrotóxicos,
metais pesados e solventes. São mais de 600 atendimentos
anuais, 16 por semana.
"A equipe do Iesc trabalha em prol de alternativas
ambientalmente mais corretas e defende o banimento gradativo
do uso de agrotóxicos. Temos constatado situações
absurdas no Brasil, em que o uso indiscriminado desse tipo
de produto tem causado sérios danos à saúde
e ao meio ambiente", reforça Heloísa
Pacheco. Um exemplo que comprova a realidade, segundo a
neurotoxicologista, foi o de uma pesquisa desenvolvida pelo
Iesc, em lavouras de tomate no Mato Grosso do Sul, em 2004,
onde foi constatada a ineficácia da utilização
do Tamaron. "Os agricultores tinham que utilizar grandes
quantidades do produto para obter baixos resultados, o que
acarretava em altos custos para manter a produção,
além dos impactos da exposição dos
trabalhadores e os danos ambientais", reforça.
A exemplo do que vem fazendo em outros Estados brasileiros,
no Mato Grosso do Sul, segundo a neurotoxicologista, a equipe
de pesquisadores do Iesc realizou cursos de capacitação
em toxicologia ambiental, destinado aos profissionais que
atuam na área de vigilância sanitária
e ambiental. O objetivo é preparar os médicos
e outros especialistas, para identificar e diagnosticar,
com mais facilidade, casos de contaminação
por agrotóxicos e outras substâncias tóxicas.
"No caso do Tamaron alertamos que o produto é
extremamente neurotóxico, podendo provocar alterações
emocionais e comportamentais, além de distúrbios
de memória, entre outros problemas de saúde",
afirma Heloísa Pacheco.
A médica neurotoxicologista disse ter acompanhado
com preocupação a divulgação
de informações sobre o acidente ocorrido na
fábrica da Bayer, em Belford Roxo, em função
do tanque que explodiu conter Tamaron. Embora a empresa
tenha informado que não houve vazamento do produto
para o meio ambiente, a especialista defendeu uma investigação
apurada do ocorrido.
"Não somente em função do acidente,
mas como uma prática cotidiana, a minha recomendação
é que a população exija relatórios
ambientais dos órgãos competentes para tomar
conhecimento da dosagem de substâncias tóxicas
que estão respirando no dia-a-dia. Defendo também
que se a população está convivendo
ao lado de uma fábrica de substâncias químicas,
seria fundamental capacitar os profissionais de saúde
do município para realizar diagnóstico em
toxicologia ambiental e ocupacional. O estudo epidemiológico
da população é outra iniciativa fundamental",
analisa.
A especialista concluiu que os paradigmas toxicológicos
adotados pelas empresas precisam ser mudados, uma vez que
a toxicologia na atualidade trabalha com as questões
que envolvem suscetibilidades, que por sua vez, são
maiores ou menores dependendo de questões diretamente
interligadas a fatores socioeconômicos e ambientais.
"Produtos químicos podem ser mais tóxicos
para crianças e pessoas idosas, por exemplo, ou para
pessoas que enfrentem situação de desnutrição
e histórico de problemas respiratórios. Se
estamos falando de comunidades carentes que vivem no entorno
de uma indústria química essas suscetibilidades
precisam ser levadas em consideração",
conclui.
O engenheiro agrônomo Sebastião Pinheiro,
no artigo "Tamaron, a bomba atômica dos miseráveis",
citado em matéria do portal Ambiente Brasil, já
havia alertado sobre a toxidade do produto. Segundo o especialista,
"o Tamaron tem uso restrito na União Européia
e é proibido em vários países por sua
toxidade aguda, crônica e latente, desde que se descobriu,
em 1991, através de um estudo epidemiológico
do reino da Noruega, que comprovou que os fosforados provocavam
uma defasagem cognitiva nas crianças da área
rural do país de melhor qualidade de vida".
O texto completo foi anexado à representação
encaminhada ao Ministério Público Estadual,
pelo Fórum de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da
Baía de Sepetiba e da Zona Oeste.
Na representação, o ambientalista Sérgio
Ricardo de Lima apoiou as suas reivindicações
de levantamento epidemiológico das comunidades de
Belford Roxo nas considerações de Sebastião
Pinheiro. No artigo que escreveu, o engenheiro agrônomo
sugeriu:
"- Levantamento epidemiológico sobre cognição
das crianças da Baixada Fluminense em Belford Roxo
no entorno do acidente, de acordo com o Estatuto da Criança;
- Coletas de amostras para análise de TetraMetilDiTioPiroPhosfato
(TMDTPP) nas águas, urina e ar, no entorno;
- Análise do enantiomorfo no sangue dos operários
da empresa;
- Presença de TMDTPP, enantiomorfo de Tamaron, nas
partidas de produtos após o acidente."
Ainda segundo o engenheiro agrônomo os principais
riscos oferecidos pelo Tamaron são os seguintes:
" - O Tamaron em contato com águas ácidas
dos esgotos das favelas tem uma meia vida de 700 dias;
- O Tamaron se isomeriza no ambiente e TetraMetilDiTioPiroPhosfato
(HMDTPP) com Dose Letal 50 de 0,9 mg/Kg, trinta vezes mais
tóxico que o produto original;
- O Tamaron, em contato com sais de cobre conforme trabalho
de Tese de Engenheiro-Doutor J.Wiemer, em 1976, para a Bayer
AG, NÃO PUBLICADO, segundo Christa Fest, Karl J.
Schmidt se torna (chiral) "enantiomorfo" até
mil vezes mais tóxico e usado em armas químicas,
aparentado com os "VG" e "VX" na Guerra
do Iraque".
Os três questionamentos divulgados pela imprensa
foram respondidos pela Bayer da seguinte forma:
" - Nossos dados sobre o comportamento hidrolítico
(comportamento em água) de metamidofós em
soluções buffer mostram que a meia-vida com
valores de pH ácidos é mais longa que sob
condições neutras ou básicas. Sob condições
de tratamento de esgoto o valor do pH neutro é realista.
Nosso estudo com água, com sedimento e pH 7,3-7,5
mostra meias-vidas de menos de 10 dias, tanto na água
como no sistema todo;
- Não foram detectadas estruturas dímeras
(e.g. Pirofosfatos) em nenhum dos nossos estudos de destino
ambiental - solo, água e ar;
- Metamidofós é um composto quiral do éster
do ácido tiofosfórico. Ele é comercializado
como mistura racênica. Foram feitos todos os testes
toxicológicos com essa mistura, que recebeu aprovação
para registo. VX (Guerra do Iraque), ao contrário,
é um derivado do ácido metanofosfônico
e, portanto, não é quimicamente comparável."
O
Tamaron, segundo o prof. da Esalq Gilberto Casadei de Baptista
(em PDF)
As respostas da Bayer
O diretor de Meio Ambiente da Bayer SA, Enio Viterbo, respondeu
as questões levantadas pela reportagem, durante entrevista
com moradores de Belford Roxo, e com o coordenador do Fórum
de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Baía de Sepetiba
e da Zona Oeste, Sérgio Ricardo de Lima. Segundo
o executivo, a empresa não foi comunicada oficialmente
da representação encaminhada pela organização
ao Ministério Público Estadual e à
Procuradoria da República no RJ. Ele ressaltou ainda
que a Bayer mantém uma relação de diálogo
com as comunidades, tem pautado a sua atuação
pelo respeito à leis em vigor e desconhece problemas
ambientais ou de saúde pública decorrentes
das suas atividades na Baixada Fluminense. Confira a entrevista
a seguir.
Os moradores dizem que falta diálogo da empresa
com as comunidades vizinhas e que nunca receberam nenhum
tipo de treinamento sobre como devem agir em caso de acidentes.
Enio Viterbo "A Bayer sempre manteve um bom relacionamento
com a comunidade e sempre esteve aberta ao diálogo.Tanto
que no ano passado foi criado um Conselho Comunitário
Consultivo - o primeiro do Rio de Janeiro -, formado por
diversos membros da comunidade. Periodicamente este Conselho
se reúne com representantes da empresa para debater
temas de interesse de ambas as partes, dentre eles a segurança
no Parque Industrial e ao redor da empresa. Outro ponto
que comprova a transparência da empresa é que,
para a manutenção da segurança dos
colaboradores e da comunidade vizinha, anualmente é
realizado o Simulado de Emergência Nível III.
Este treinamento avalia o plano de emergência em um
caso de acidente com potencial de transpor as barreiras
do Complexo Industrial e atingir a comunidade. A ação
preventiva conta com a participação de órgãos
externos de apoio, como o Corpo de Bombeiros de Nova Iguaçu,
Defesa Civil de Belford Roxo, Polícia Militar, SuperVia
e FEEMA, além do PAM (Plano de Auxílio Mútuo),
composto por empresas próximas à Bayer."
Os moradores dizem que a empresa não divulgou
informações e nem prestou esclarecimentos
à comunidade sobre o acidente, suas causas e ações
desencadeadas para evitar contaminação ambiental
e problemas de saúde pública.
Enio Viterbo "A Bayer sempre manteve junto à
comunidade uma postura de transparência e respeito
desde o início de suas operações, há
quase 50 anos. Tanto isto é verdade que foi por sua
iniciativa que foi criado o primeiro Conselho Comunitário
Consultivo do Rio de Janeiro.Vale ressaltar que não
houve omissão de fatos e que todas as providências
foram tomadas a fim de evitar qualquer tipo de impacto ambiental.
O acidente ocorreu em função de um aumento
de temperatura no tanque de envase do defensivo agrícola
Tamaron, que foi resfriado com jatos de água para
impedir emissões atmosféricas. Toda a água
utilizada na ação de resfriamento foi tratada
na estação do Parque Industrial de Belford
Roxo. Assim, mais uma vez é preciso dizer que não
houve vazamento do produto, contaminação ambiental
e problemas de saúde. Além das providências
internas, a empresa também acionou seu plano de emergência
que contou com a participação da Defesa Civil,
do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e da FEEMA
(Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente)."
Os moradores se queixam que a fumaça que exala das
instalações da empresa provoca uma série
de problemas de saúde nas famílias que estão
mais próximas (principalmente náusea e irritação
nos olhos). Eles reclamam também que o problema piora
à noite, quando a fumaça é mais escura
e o mau cheiro que exala é considerado insuportável,
causando dificuldades para dormirem.
Enio Viterbo "Não temos conhecimento de nenhum
problema ocasionado pela nossa atividade, uma vez que a
empresa segue todas as normas de segurança e exerce
todas suas atividades dentro da lei estabelecida no Brasil.
A empresa é comprometida com as melhores práticas
de atuação responsável, com certificados
internacionais ISO 9000 e ISO 14000. E o mais importante,
periodicamente os colaboradores que trabalham diretamente
com os produtos fazem exames. Este monitoramento é
importante porque, em caso de poluição prejudicial
à população, o público interno
é o primeiro a apresentar problemas de saúde,
o que nunca ocorreu."
Os moradores também disseram que conhecem casos
de comunidades (como o da localidade chamada de Gogó
da Ema) onde houve contaminação do lençol
freático pelas atividades da empresa, o que teria
levado as famílias a lacrarem seus poços artesianos.
Enio Viterbo "A Bayer desconhece qualquer reclamação
ou questionamento sobre contaminação do lençol
freático do Gogó da Ema. Porém, vale
destacar que, mesmo que a área estivesse contaminada,
o problema jamais poderia ter sido causado pela Bayer, uma
vez que as águas correm sempre do local mais elevado
para o mais baixo - do Gogó para o Rio Sarapuí.
Neste caso específico, como o Gogó está
num terreno mais elevado em relação ao Rio
Sarapuí e a Bayer se localiza depois do Gogó
da Ema, é tecnicamente impossível que a empresa
seja responsável por quaisquer problemas de contaminação
nesta região."
Quais foram os procedimentos tomados após
o acidente para evitar riscos de contaminação
ambiental e à saúde da população
da cidade?
Enio Viterbo "A unidade afetada é a que sintetizava
o ingrediente ativo Metamidofós, base do defensivo
agrícola Tamaron. O acidente foi ocasionado pelo
aumento de temperatura no tanque de envase, que se rompeu
por excesso de pressão. Imediatamente, o tanque foi
resfriado com jatos de água para o abatimento das
emissões atmosféricas. Paralelamente, a empresa
acionou seu plano de emergência, que contou com a
participação da Defesa Civil, do Corpo de
Bombeiros, da Polícia Militar e da FEEMA. Toda a
água utilizada na ação de resfriamento
foi tratada na estação do Parque Industrial
de Belford Roxo. Não houve vazamento do produto e
a área afetada foi limpa imediatamente. Portanto,
a população não foi afetada."
Que tipo de produtos são fabricados nas instalações
onde ocorreu o acidente?
Enio Viterbo "Em Belford Roxo é realizada a
formulação da maior parte dos defensivos agrícolas
da Bayer CropScience. No Parque Industrial em Belford Roxo
existem fábricas da Bayer CropScience, a produção
de polímeros da Bayer Material Science, além
de outras empresas parceiras. O acidente afetou somente
a unidade da Bayer CropScience, que sintetizava o ingrediente
ativo metamidofós."
Na representação que o Fórum
de Meio Ambiente e Qualidade de Vida da Baía de Sepetiba
e da Zona Oeste encaminhou ao Ministério Público
e à Procuradoria da República no RJ foi pedido
levantamento epidemiológico da população
local e até a realocação da empresa.
Como a Bayer avalia esse tipo de demanda e o que deve fazer
em relação à ação movida
pela sociedade?
Enio Viterbo "A Bayer não foi comunicada oficialmente.
No entanto, vale salientar que a empresa atua dentro das
mais rígidas normas de segurança e de acordo
com a legislação brasileira, que é
considerada uma das mais rigorosas do mundo. Nunca tivemos
o registro de acidentes que prejudicassem a população
ao redor. E no caso do acidente recente, todas as medidas
cabíveis foram adotadas imediatamente a fim de preservar
a segurança e o bem-estar dos colaboradores e da
população. Outro fator importante é
que a empresa constitui-se numa importante fonte geradora
de empregos e recursos para a cidade de Belford Roxo. Atualmente,
o parque conta com mais de 2.000 vagas de trabalhos diretas
e indiretas, sendo que 70% destas são ocupadas por
moradores da região".
A ação também questiona impactos
do Tamaron à saúde e ao meio ambiente. O produto,
segundo consta no texto da representação,
pode provocar sérios danos cognitivos, sobretudo,
nas crianças. Era somente esse o produto contido
no tanque que explodiu? Essas informações
procedem?
Enio Viterbo "Primeiro, o acidente ocorreu somente
no tanque de envase do Tamaron. Trata-se de um inseticida
produzido pela Bayer CropScience e é devidamente
registrado pelos órgãos que regulamentam a
produção e utilização de defensivos
agrícolas no Brasil - Ministério da Agricultura,
Ibama e Anvisa. O produto é recomendado para o controle
de pragas nas culturas soja, algodão, amendoim, batata,
feijão, tomate e trigo e está há anos
no mercado brasileiro. O Tamaron possui um odor bastante
forte, devido a um de seus componentes que contém
enxofre, o que ajuda na detecção do produto.
Porém, esse cheiro forte se dissipa rapidamente e
desaparece sem causar danos à saúde ou ao
meio ambiente. Vale destacar que o Tamaron é um produto
de alta importância para a agricultura, sobretudo
para o controle de pragas na cultura da soja, que é
a principal cultura de exportação do Brasil."
Procede a informação de que o Tamaron seja
de uso restrito ou proibido na maioria dos países
desenvolvidos pelos riscos ambientais e à saúde
que possa causar? Quais são as suas principais indicações?
Enio Viterbo "O produto é registrado e utilizado
em diversos países do mundo, principalmente para
as culturas de soja e algodão. Desta forma, em países
onde estas culturas são importantes, ele é
registrado e vendido; em regiões onde estas culturas
não são expressivas, ele não é
necessário. Nos Estados Unidos, por exemplo, país
produtor de soja e algodão, o produto é vendido.
Na Europa ou em outras regiões estas culturas são
praticamente inexistentes. Seu importante uso no Brasil
e EUA deve-se, portanto, à forte presença
das culturas de soja e algodão nestas duas regiões."
Como a empresa atua no controle de suas emissões
atmosféricas e lançamento de efluentes industriais?
Enio Viterbo "A empresa atende a absolutamente todos
os requisitos da legislação brasileira vigente.
Todos os índices estão sob controle, inclusive
com o acompanhamento dos organismos de controle ambiental,
como a FEEMA."
Como atua em relação à prevenção
de acidentes?
Enio Viterbo "As equipes de Belford Roxo passam por
rigorosos treinamentos de emergência para agirem rapidamente.
Ao mesmo tempo, existe orientação detalhada
a respeito de quais organismos públicos devem ser
alertados. Todos os procedimentos do Plano de Emergência
em caso de crise foram seguidos à risca. Também
é realizado anualmente o Simulado de Emergência
Nível III. Este treinamento avalia o plano de emergência
em um caso de acidente com potencial de transpor as barreiras
do Complexo Industrial e atingir a comunidade. A ação
preventiva conta com a participação de órgãos
externos de apoio, como o Corpo de Bombeiros de Nova Iguaçu,
Defesa Civil de Belford Roxo, Polícia Militar, SuperVia
e FEEMA, além do PAM (Plano de Auxílio Mútuo),
composto por empresas próximas à Bayer."
Há também um questionamento na representação
de que as instalações de Belford Roxo seriam
antigas e teriam equipamentos ultrapassados, que não
seriam utilizados em países desenvolvidos como os
europeus. Há quanto tempo a empresa está instalada
no local e o que poderia dizer em relação
a esse questionamento quanto à eficiência de
suas instalações?
Enio Viterbo "Embora a empresa esteja em Belford Roxo
há quase cinqüenta anos, ela tem passado por
modernizações e atualizações
tecnológicas sistematicamente, O que mantém
nossas instalações sempre em pé de
igualdade com outras fábricas da Bayer S.A. no mundo.
O aterro, por exemplo, atende aos conceitos técnicos
mais avançados para a disposição de
resíduos químicos. Há anos, são
feitas medições e avaliações
constantes do lençol freático - em sete poços
- por meio das autoridades competentes. Essas análises
mostram que o aterro não libera substâncias
nocivas (entre elas o mercúrio) para o meio ambiente.
Já o incinerador atende todos os padrões mundiais
e está listado no cadastro do UNEP (United Nations
Environmental Programme). A tecnologia usada aqui é
a mesma da matriz, na Alemanha."
* Esta reportagem é fruto de um trabalho coletivo.
Ela foi financiada por um grupo de jornalistas ambientais
que acredita que é possível e necessário
aumentar a massa crítica na área, a partir
da investigação independente e do compromisso
de veiculação pelas mídias ambientais.