Embora muita gente,
inclusive na universidade, continue repetindo o velho chavão:
a vocação brasileira é a agropecuária,
pouco se tem feito, efetivamente, para legitimar esta realidade,
em especial nos cursos de Comunicação/Jornalismo.
Os motivos são
muitos, mas vale a pena destacar de imediato 3 deles. Em
primeiro lugar, há carência de professores
e de pesquisadores de Comunicação/Jornalismo
dispostos ou capacitados a coordenarem projetos ou ministrar
disciplinas ou conteúdos nessa área. Em segundo
lugar, as grades curriculares dos cursos universitários,
mesmo localizados em Estados ou municípios absolutamente
identificados com a agropecuária, não contemplam
esta alternativa, como se a comunicação rural
e o jornalismo agropecuário não tivessem qualquer
importância. Finalmente, não há, por
parte das empresas ou entidades da área, qualquer
esforço no sentido de estimular esta capacitação,
o que contribui para aumentar a invisibilidade do agronegócio
nas faculdades ou cursos de Comunicação/Jornalismo.
Esta lacuna traz conseqüências
negativas para a área que se vê alijada do
foco de interesse dos futuros comunicadores ou profissionais
de imprensa e, portanto, incapaz de contar, a médio
e longo prazos, com recursos humanos e pesquisas que possam
qualificá-la.
O desconhecimento da
importância da agropecuária para o desenvolvimento
nacional, a falta de conscientização dos problemas
vividos pelo campo, a inexistência de debate, nos
bancos das universidades, sobre temas relevantes como segurança
alimentar, bioenergia, biodiversidade, impacto das mudanças
climáticas na agricultura, agricultura familiar etc
deverão gerar, de imediato, condições
adversas para o trabalho em comunicação/jornalismo
em agronegócio.
Esta formação
poderia ser útil tanto para as empresas do setor,
que poderiam dispor de profissionais melhor informados sobre
as suas principais pautas, como para a universidade que
incluiria entre seus objetos de pesquisa temas de grande
atualidade e relevância econômica e sócio-cultural.
A capacitação
de profissionais em comunicação e jornalismo
voltados para o agronegócio contribuiria também
para a multiplicação de espaços e veículos
para a cobertura da área, hoje reduzida a informações
comerciais de interesse de corporações monopolistas.
Serviria para ampliar o debate da questão agropecuária
para além da mera preocupação econômica
e sobretudo contextualizar essa vocação (que
é real, dada a riqueza de nossos recursos naturais)
a partir de uma perspectiva mais crítica.
Urge abrir espaços
na universidade brasileira para a comunicação
rural e o jornalismo agropecuário. Vamos descruzar
os braços?