Mortes por estafa,
nenhuma garantia trabalhista, condições desumanas
de trabalho e inclusive trabalho escravo. Esta é,
infelizmente, a realidade de milhares de canavieiros (e
outros trabalhadores rurais) abandonados por esse Brasil
afora, mesmo na região de Ribeirão Preto,
em São Paulo, considerada a Califórnia brasileira.
Foi, certamente, por
conhecer a situação dramática em que
vivem os nossos “bóias frias” que os
sindicatos rurais e a mídia reagiram imediatamente
à fala do presidente Lula, que no seu arroubo lingüístico
particular chamou os usineiros de “heróis”.
Há, como diz
o caboclo, males que vêm para o bem e, sem desejar,
o presidente acionou a sirene dos direitos sociais no campo.
As notícias
sobre abusos nos canaviais não são recentes
e não constituem surpresa. Os demandos de usineiros
inescrupulosos são conhecidos e, apesar das autuações,
pouco se tem feito para alterar esse quadro dramático.
Em setembro de 2006, o Estadão trazia matéria,
assinada pelo repórter Jair Aceitumo, sobre 230 bóias
frias encontrados em condições precárias
em usinas de Pederneiras, Mineiros do Tietê e Dois
Córregos, no interior de São Paulo. Antes
disso, em maio de 2006, a Folha de S. Paulo, em matéria
assinada pela jornalista Juliana Coissi, já mencionava
irregularidades encontradas em empresas da região
de Piracicaba e Ribeirão Preto. O jornal O Globo,
em março de 2007, não perdoava os “heróis
de Lula”, multados por exploração de
trabalhadores (chegavam a ficar de 12 a 14 horas sob o sol,
sem água potável, alimentação
adequada, equipamentos de proteção e não
tinham registro em carteira).
Em São Paulo,
cerca de 20 canavieiros já morreram, nos últimos
3 anos, durante o trabalho nas fazendas paulistas mas os
usineiros, com era de se esperar, fazem promessas de melhora,
acionam seus padrinhos políticos e continuam confiando
na lentidão na Justiça para permanecer impunes.
Mesmo grandes empresas têm terceirizado o processo
de contratação de mão-de-obra e submetido
os seus trabalhadores a situação considerada
precária pelas autoridades.
Reportagem publicada
na Folha de S. Paulo, de 22 de março de 2007, assinada
por Maurício Simionato, informa que “dezenas
de trabalhadores rurais sem equipamentos de segurança
foram flagrados pelos fiscais do Ministério do Trabalho
e procuradores do Ministério Público do trabalho
na Usina Nova América, uma das maiores produtoras
de açúcar e álcool do país,
responsável pela marca de açúcar União.”.
O festival de maldades
dos “heróis” de Lula só vem reforçar
a tese de que há muito a se fazer nesta área
e que é preciso estar atento ao que acontece no campo.
As exportações de produtos da agroindústria
, festejadas pelas equipes econômicas e pela mídia,
muitas vezes escondem irregularidades e afrontas inexplicáveis
aos direitos humanos.
É preciso ressaltar
que essa situação dramática não
pode ser generalizada porque há empresas que cumprem
suas obrigações, mas todo cuidado é
pouco. A expansão dos canaviais em função
da política de incentivo ao etanol, além dos
prejuízos que pode causar ao meio ambiente e à
saúde, não pode ser feita à custa da
qualidade de vida e da degradação do trabalho
dos canavieiros.
A imprensa precisa
definitivamente acordar para o problema dos direitos sociais
no campo, seguir o exemplo da jornalista Miriam Leitão
que, em coluna do dia 22 de março de 2007, no jornal
O Globo, lembrava das “qualidades” de alguns
dos heróis do presidente. Resgata histórias
de grilagem no Pará, destruição de
nascentes de rios, maus tratos e outros episódios
de arrepiar os cabelos.
Para esses “heróis”
sem pátria, o único troféu possível
é cana mesmo, um mal cheiroso xilindró (que
não deve ser pior do que os locais onde alojam os
trabalhadores) e uma boa sova no lombo. Com essa gente não
dá mesmo para se chegar ao Primeiro Mundo.
Que o presidente, melhor
informado, não continue fazendo, como os anteriores,
favores para os usineiros heróis. Seria melhor, pelo
menos para a nação, que exigisse deles o pagamento
de dívidas imensas. Heróis tão caloteiros
não se encontram em gibi algum.