Quem se assustou com
os dados contidos no primeiro relatório da ONU sobre
mudanças climáticas, lançado em fevereiro
de 2007, tem agora mais motivos para se arrepiar. Os cientistas
do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(IPCC) acabam de divulgar em detalhes os efeitos presentes
e futuros da ação humana sobre o clima. E
, apesar das pressões políticas, não
puderam desta vez colocar muitos panos quentes. Pelo contrário,
apontaram os responsáveis que pagarão a fatura
dos prejuízos causados sobretudo pelas nações
ricas.
Você tinha alguma
dúvida? Pois é, são as populações
dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
que ficarão com a maior parte da conta, sofrendo
dramaticamente os efeitos da ação nefasta
do homem e do progresso (?) sobre o clima.
Os pobres, particularmente
na África (mas também os europeus, os latino-americanos
e asiáticos), enfrentarão problemas terríveis
derivados do declínio da produção de
alimentos e da falta de água. Estima-se que alguns
bilhões de pessoas nas próximas décadas
não disporão de água para suas necessidades
básicas, outras centenas de milhões passarão
fome severa pela degradação dos ambientes
e mais de meio milhão padecerá com as enchentes.
O novo Relatório
do IPCC adverte para o desaparecimento de um número
formidável de espécies (cerca de 40% se a
temperatura subir 4 graus e 20 a 30%, se ela subir 2,5 graus)
e para a possibilidade de extinção dos recifes
de corais. O número de casos de desnutrição,
doenças intestinais, infecciosas e cardiorespiratórias
poderá crescer assustadoramente e cerca de 1/3 das
áreas alagadas costeiras deverá desaparecer.
Enfim, um quadro trágico e que pode, segundo alguns
cientistas, ser ainda pior, dependendo das condições.
Para o Brasil, as conseqüências
também serão funestas: o sertão pode
virar deserto e parte considerável da Amazônia
se transformar em cerrado. Evidentemente, a nossa festejada
biodiversidade se verá ameaçada, com a extinção
de um número incalculável de espécies
vegais e animais.
Há algo que
se possa fazer? Certamente, embora os governantes, em especial
dos países ricos, não estejam dispostos a
aceitar com facilidade as restrições impostas
pela realidade. Tanto é verdade que o Protocolo de
Kyoto, recém assinado, e que consiste no compromisso
de boa parte das nações em reduzir o efeito
estufa, ficou apenas no papel porque as emissões
de carbono, em vez de declinarem, aumentaram depois da assinatura
do acordo.
Um novo Relatório
está sendo esperado ainda para este semestre e ele
indicará as saídas para o problema. De qualquer
forma, não se pode esperar milagre mesmo, até
porque já se sabe que as propostas virão no
sentido de atenuar o impacto e não de impedi-lo.
O estrago feito não poderá mais ser revertido
e, agora, precisamos estar comprometidos com duas coisas:
refrear a degradação do meio ambiente e estabelecer
mecanismos para controlar os efeitos do nosso impacto sobre
o clima.
Precisamos fazer, cada
um de nós, a nossa parte mas é fundamental
cobrar dos governantes de todo o mundo ações
enérgicas para evitar o caos. Quem sabe o Bush, presidente
da nação mais poluidora do planeta, entrega
o seu lugar, nas próximas eleições,
para alguém mais responsável social e ambientalmente.
Se os EUA não colaborarem, o mundo pouco poderá
fazer. Pressão neles. Está na hora de dar
uma basta: eles já sujaram o quintal do mundo demais.
Em tempo: o Brasil tem obrigação de
dar a sua quota para a solução do problema.
O desmatamento pode até ter diminuído, como
apregoa o Governo, mas ainda é elevado demais. Continuamos
caprichando no discurso e fazendo pouco, muito pouco, na
prática.